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Carta do mundo real ao mundo do sonho

Começa mais uma tarde de domingo. Acabei de almoçar, estou sentada no canto alemão que escolhemos juntos, para o lar que iríamos construir juntos. Me recordo do seu aniversário. Passei a semana lembrando.  Uma tristeza enorme me assola pelo que poderia ter sido e não foi.  Poderia ter sido um almoço em família, em casa, ou em alguma viagem organizada para finalmente descansar e celebrar nossos aniversários, o crescimento da família, e agradecer pelos presentes enviados do Céu, tudo o que desejamos.  Não será assim, e desisti de me revoltar por todas as perdas. Durou tão pouco. Pude me sentir feliz por algumas semanas, vivenciar um sonho. A realidade nos chacoalha, nos desperta, nos mostra que, quanto mais alto escalamos,  mais doído o tombo .  Será mais um domingo sozinha, em solitude, algo com o qual agora eu sei conviver, já não me dá mais medo, embora meu desejo não seja esse.  Feliz aniversário. Que seu novo ciclo te traga novas possibilidades de realizar seus sonhos. Agarre-as com

Ressignificar datas

Incrível o efeito do tempo na nossa percepção da vida, das fases, das datas. Páscoa: festa cristã de que quase todos os seres ocidentais gozam enquanto feriado. Significa passagem, libertação, ressurreição.  Hoje, por um instante percorri minha memória na tentativa de lembrar como foram as páscoas dos últimos anos: 2020, em total isolamento; 2021, em isolamento, mas em companhia daquele que eu pensava que seria meu eterno companheiro dali em diante; 2022: em família, porém com o coração dilacerado por saber que aquele que desejei que estivesse de mãos dadas comigo nesse dia e nos outros se recusou a fazer esse pequeno (porém, para mim, grande) gesto. Preferiu qualquer coisa externa a estar ao meu lado, como o fez muitas vezes depois, deixando clara a sua falta de disponibilidade em realizar concessões dentro de uma relação. Não era um pedido absurdo: apenas estar ao meu lado por algumas horas, em família. Mas, para ele, talvez, algo impossível. Na data de hoje, passei em companhia e em

Cortinas

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  Estou feliz. Finalmente coloquei cortinas no quarto.  Como pode uma coisa tão banal me causar tanto contentamento? É a pergunta que me faço. De início, imagino que se trate apenas daquela rasa e passageira felicidade que a beleza nos oferece.   Sim, meu quarto está bonito. As cortinas foram a última aquisição para deixar esse ambiente aconchegante, completamente novo e diferente do que era há um ano. Meu desejo era torná-lo um ambiente confortável como um quarto de um bom hotel, porém dotado de personalidade, de um toque essencialmente meu. Objetivo alcançado.  Dormi minha primeira noite nesse novo quarto. Sim, completamente novo para mim, depois que coloquei as cortinas. Foi uma ótima noite de sono. Ao acordar, pela primeira vez em muito tempo acordei bem e disse a mim mesma, baixinho: — Bom dia! Acordei com a luz do dia atravessando minha janela, somada a uma leve brisa que movimentava as cortinas, fazendo-as esvoaçar. Que cena maravilhosa. Banal e maravilhosa. Continuo a me questi

Edifício Lealdade

Nos dias em que vou trabalhar no escritório, desço do ônibus e percorro um trecho do trajeto a pé. Ainda é bem cedo, há poucas pessoas em direção a seus trabalhos, suas vidas, seus compromissos, suas rotinas. Passo em frente ao Edifício Lealdade, que fica em uma rua bem bonita do centro da cidade. Olho pra ele e me pergunto quais teriam sido os motivos pelos quais assim o nomearam. E, enquanto caminho, tento formular uma definição para essa palavra. Lealdade. O que será que os seres humanos entendiam por lealdade no tempo em que aquele edifício foi construído? Será que é muito diferente do que entendemos hoje?  Atravesso a rua. Que lindos os irmãos de mãos dadas indo para a escola com carinhas de sono, de quem deseja dormir mais um pouco. Me recordo que as aulas retornaram nesta semana. Logo em seguida, mais alguns adolescentes saindo de suas casas, de uniforme, em direção à escola.  Enquanto caminho, volto à minha reflexão. Penso na minha história de vida: quando é que fui leal a algu